Uso de NFTs em jogos de videogame divide a indústria
Um dos termos da moda no mundo da tecnologia, a sigla NFT (tokens não fungíveis, que funcionam como uma espécie de certificado de propriedade vinculado a um produto digital) tem aparecido cada vez mais em declarações de executivos da indústria de videogames.
Algumas empresas veem essa tecnologia intrinsecamente ligada ao futuro dos jogos virtuais. É o caso, por exemplo, da Ubisoft (criadora de franquias como “Assassin’s Creed” e “Far Cry”), que no fim do ano passado lançou sua própria plataforma para venda de NFTs, a Quartz.
Ainda em fase beta, a plataforma disponibiliza atualmente apenas NFTs de itens cosméticos para o jogo “Ghost Recon Breakpoint”. Ainda assim, o anúncio foi muito criticado pelos gamers e, segundo o site Kotaku, até por funcionários da empresa francesa.
O vice-presidente do Laboratório de Inovações Estratégicas da Ubisoft, Nicolas Pouard, afirmou que a rejeição ao anúncio se deve à ignorância de pessoas “que não entenderam o que um mercado secundário digital pode fazer por elas”.
“Por causa do contexto e da situação atual, os gamers acreditam que os NFTs estão destruindo o planeta e são só uma ferramenta para especulação. Mas nós [da Ubisoft] estamos vendo o longo prazo. E o longo prazo é sobre dar aos jogadores a oportunidade de revender seus itens quando eles não os quiserem mais”, afirmou ao site australiano Finder.
Executivos de outras grandes empresas de videogames, como Square Enix (de “Final Fantasy”) e Eletronic Arts (das séries “The Sims” e “Fifa”), também deram declarações defendendo o uso da tecnologia nos games.
A EA, no entanto, deu um passo atrás mais tarde, dizendo não estar “buscando intensamente” projetos nesse sentido e indicando que a receptividade aos NFTs não está consolidada e nem é uma unanimidade na indústria.
Phil Spencer, chefe da divisão de Xbox na Microsoft, por exemplo, mostrou em entrevista à Axios ter sérias restrições à forma como os NFTs estão sendo adotados nos games, apesar de não descartar por completo a tecnologia.
“Acho que tem muita especulação e experiências acontecendo, e que um tanto da criatividade que eu vejo hoje parece mais exploração que entretenimento”, disse.
O ceticismo é compreensível. Muitos dos jogos lançados até hoje com base em NFTs se assemelham a esquemas de pirâmide ou são considerados “play-to-earn” (em que o jogador é incentivado a jogar mais e mais em troca de dinheiro).
Esse, no entanto, não parece ser o caminho que a maior parte das grandes empresas que apostam na tecnologia pensam tomar.
- A Ubisoft destacou que os itens em NFT disponíveis em seus jogos serão “sempre cosméticos e sem impacto no gameplay”;
- A Valve instituiu na Steam, sua plataforma de venda de jogos para computador, um veto a títulos “que permitam troca de criptomoedas ou NFTs” –apesar disso, sua concorrente, a Epic Store, se manteve aberta a abrigar esses jogos.
Mesmo com uma série de restrições, parece provável que nos próximos anos mais e mais jogos serão lançados com algum tipo de associação com NFTs. Se isso se dará de forma lateral, como geralmente acontece hoje em títulos com microtransações, ou se os NFTs passarão a ter papel central nos games dependerá muito das formas que a indústria encontrará para explorar essa tecnologia e da aceitação dos consumidores a elas.